domingo, 24 de janeiro de 2010


Incrível é a voz da saudade que grita em meu ouvido. E eu a ouço também, por vezes, como um leve sussurro. E de repente eu acordo e a saudade emite um som doloroso que impede que meu sono seja recomeçado.


A saudade grita. Ou melhor, chora, uiva, geme, ou sei lá mais o que este sentimento é capaz de fazer. Eu sei que uma pessoa que sente saudades sofre. Mas uma pessoa que mora vizinha de uma casa onde cachorros sente saudades, sofre mais ainda. Posso dizer que ver um animal sentindo falta do seu dono é uma situação, consideravelmente, tocante. No entanto, quando além de um cachorro sentir falta do dono, outro também sentir e expor para fora todo esse sentimento contido, aí é dose! Há mais ou menos dois anos, uma família de caninos habitam a casa ao lado da minha. Há mais ou menos dois eu perco o sono com o granhido e latido desses pequenos notáveis. E há mais ou menos dois anos, a família composta por cinco unidades de cães, diminuiu, e hoje são apenas em três.


Confesso que não me sinto bem em ter dúvida se sinto pena em relação as percas, ou se me sinto aliviada por ser dois latidos a menos na janela de meu quarto. Inacreditável que tantos cantinhos para se resguardarem, ou descansarem, ou chorarem ou até mesmo latirem, a família desses queridíssimos amigos do homem escolhem justamente o corredor em que se localiza a janela do meu quarto. Ah, meu quarto! Já pensei colocar um sistema de acústica só para abafar todo o som externo, no entanto, ainda não me sobra verba suficiente para tal investimento. Colocar o travesseiro na orelha também não é uma situação confortável, ainda mais nesse calor de cozinhar os miolos que está fazendo ultimamente. Matar o resto das unidades caninas também não acho uma boa idéia, já que não existem crimes perfeitos e a suspeita sempre cai nas costas da vizinha antipática e sem coração. Até poderia haver a hipótese de acusarem a vizinha do outro lado, mas esta conserva não só um canil como também um "gatil" ( posso chamar assim uma concentração considerável de gatos em um único espaço?). Ou seja, a vizinha do outro muro seria incapaz de fazer mal algum a qualquer bichinho, que dirá a um cachorro! Me danei! Melhor continuar apenas com os planos de vingança na cabeça. O sorriso que aparece em minha face se dilui quase que instantaneamente quando caio na real, mas vale os segundo de prazer.


Sentir saudade é um sentimento tão bonito! E quem disse que animal não tem sentimentos? Tem sim, e muitos! Choram a valer. São muito sentimentais. E no caso da "vizinhança cachorral", até demais. A dona da casa quando viaja passa semanas fora, por vezes até meses. E aí quem paga o pato é a vizinha de corredor da casa, ou seja, eu. Já rezei, já implorei, já gritei e até mesmo tentei dialogar com os caninos quando passam pelo momento "deprê" do dia. Não adianta. Todas as tentativas são frustadas. Eles continuam chorando, gemendo, uivando, ou sei lá mais o que posso nomear aquele som torturante. Cachorro sentimental é bonitinho só na hora que lambe o dono e fica feliz quando o vê chegar. Mas cachorro chorão é uma péssima compania, ou melhor, uma péssima vizinhança.


Fica meu apelo àquelas pessoas que viajam, deixam seu cachorro para trás e ainda nem se incomodam com o fato de eles encomodarem outras pessoas. Não sou uma sem coração, ou inimiga dos cães, longe de mim! São bons companheiros e confesso que muitas vezes já pensei em cuidar de um filhotinho. Mas é que é tão difícil aturar suas manhas, choros, grunhidos e latidos que o pensamento logo se esvai. Melhor aprender a ter mais paciência, assim quem sabe, poderei aturar os cachorros vizinhos, um dia, aturar, feliz, o meu!

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