quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

No fundo, no fundo, penso que poderíamos ser como carros... quebrou alguma coisa vamos na loja e trocamos por um novo. De repente levo um tombo, ralo o joelho e justo na semana em que a família toda viaja para a praia, qual a solução? Ir em uma loja do meu número e escolher um joelho novinho em folha, zero bala! ;) Melhor que ficar sentada na areia olhando a galera toda se divertindo e você ali naquele estado deplorável de pessoa ralada.

Pensando dessa forma é que me ocorreu de também, num futuro não tão distante, podermos escolher nosso cérebro. Por que não? Há muitos impacientes que dariam de tudo para adquirir mais paciência na vida. Ou senão, aos estouradinhos, paz no coração e compreensão! Uma dose a mais no cérebro de amor a quem muito ódio e amargura. Opa, mas perae, não seria então uma dose a ser aplicada no coração? Afinal de contas quem manda em quem, o cérebro manda no coração ou o coração manda no cérebro?

Pra falar a verdade acho que os dois são tão cúmplices nessa história quanto Pink e Cérebro na conquista pelo planeta! Um comanda daqui, o outro responde de lá, e assim vai... E assim vão destruindo qualquer um não é mesmo? Quem nunca sofreu com a indecisão de seguir o coração ou a cabeça? Quem nunca chorou por ter respondido as batidas do coração e se ferrado, e mais tarde então se despedaçar de raiva por ter lembrado que a cabeça havia dados sinais de que as coisas poderiam ter sido diferentes... Ah o coração! Que órgão que sabe judiar da gente! Tão vital, tão mortal... E a cabeça... de tão sábia e impotente se torna burra e frágil diante das batidas do coração...

Ouvi dizer uma vez que cérebro e coração andavam juntos, sempre de mãos dadas, um ajudando o outro no que fosse possível em qualquer circunstância... Mas cada um sempre se gabando de seus atributos, e querendo preservá-los nas decisões conjuntas sempre que possível. Certo dia, ambos receberam uma missão, encontrar algo que lhes daria muita riqueza e felicidade. A recompensa seria possuir o que ambos conquistariam. Com a certeza de que tão logo encontrariam esse objeto, partiram logo em seguida para cumprir com a missão. Mas no meio do caminho ouviram uma voz que lhes diziam: "Cuidado com as armadilhas do coração, cuidado com as razões do cérebro... ambos seguindo unicamente seus méritos podem se enganar. Sigam sempre juntos, e considerem a razão e a emoção como um amuleto fonte de sabedoria e equilíbrio. Mas somente se ambos forem dosados na medida certa."

Continuaram então a seguir o caminho, quando em frente encontraram uma trifurcação, e juntos teriam que decidir que rumo tomar. O coração levado pelos sentimentos e pelo doce cheiro que o caminho da direita lhe trazia, decidiu seguir naquela direção. O cérebro enxergou um brilho tão radiante pelo caminho da esquerda que sua razão o certificou de que aquele caminho era o correto.

- O doce cheiro me traz paz, e sei que ali encontrarei a felicidade!

- O brilho intenso daquele lugar me dá a certeza de que terei a riqueza em mãos!

E assim eles se separaram, quebrando o amuleto do equilíbrio e se dispersando da missão que juntos foram encubidos de cumprirem... Cada um viu somente o que lhe interessava, e simplesmente ignoraram que o caminho do centro os levariam ao equilíbrio que lhes recompensariam com a riqueza e felicidade. Cada caminho ao lado do certeiro continha apenas uma condição, ou a de ser rico, ou a de ser feliz. Importante dizer que a riqueza nã era somente material, e que a felicidade era solitária. Após encontrarem o que cada um se interessou em achar, descobriram que haviam se precipitados em tomarem caminhos sem consultar um ao outro. Se separaram e agora se viam perdidos. Nem apenas a riqueza, nem apenas a felicidade bastavam únicas.

Desde então vivem dentro de corpos de seres humanos, e o castigo por se separarem é que dependem um do outro para sempre. Um alimentará o outro até o momento que algum não puder mais funcionar. Cérebro depende das batidas do coração, e o coração depende da superioridade do cérebro. Não se odeiam, mas quase que infinitamente o tal do ser humano sofre com as suas indiferenças.

E assim seguimos na luta diária de razão e emoção... é a nossa sina. É a nossa vida... Pensando bem na substituição de nosso corpo, que graça teria quebrar um braço e poder tê-lo novo logo em seguida? E a graça de curtir os amigos escrevendo no gesso? E as fotos da galera curtindo uma piscina e você do lado de fora com um bico do tamanho do mundo? E os mimos da avó? E a vantagem de ter os colegas copiando toda a matéria, e então ficar de boa curtindo um som no mp4?

Ah! São tantas coisas que se pode tirar proveito de uma situação que por vezes de longe não é tão favorável, mas que se analisada mais de perto pode fazer muito bem a quem compreende que quando tudo é fácil demais na vida, quase sempre ela não oferece graça nenhuma!

domingo, 24 de janeiro de 2010


Incrível é a voz da saudade que grita em meu ouvido. E eu a ouço também, por vezes, como um leve sussurro. E de repente eu acordo e a saudade emite um som doloroso que impede que meu sono seja recomeçado.


A saudade grita. Ou melhor, chora, uiva, geme, ou sei lá mais o que este sentimento é capaz de fazer. Eu sei que uma pessoa que sente saudades sofre. Mas uma pessoa que mora vizinha de uma casa onde cachorros sente saudades, sofre mais ainda. Posso dizer que ver um animal sentindo falta do seu dono é uma situação, consideravelmente, tocante. No entanto, quando além de um cachorro sentir falta do dono, outro também sentir e expor para fora todo esse sentimento contido, aí é dose! Há mais ou menos dois anos, uma família de caninos habitam a casa ao lado da minha. Há mais ou menos dois eu perco o sono com o granhido e latido desses pequenos notáveis. E há mais ou menos dois anos, a família composta por cinco unidades de cães, diminuiu, e hoje são apenas em três.


Confesso que não me sinto bem em ter dúvida se sinto pena em relação as percas, ou se me sinto aliviada por ser dois latidos a menos na janela de meu quarto. Inacreditável que tantos cantinhos para se resguardarem, ou descansarem, ou chorarem ou até mesmo latirem, a família desses queridíssimos amigos do homem escolhem justamente o corredor em que se localiza a janela do meu quarto. Ah, meu quarto! Já pensei colocar um sistema de acústica só para abafar todo o som externo, no entanto, ainda não me sobra verba suficiente para tal investimento. Colocar o travesseiro na orelha também não é uma situação confortável, ainda mais nesse calor de cozinhar os miolos que está fazendo ultimamente. Matar o resto das unidades caninas também não acho uma boa idéia, já que não existem crimes perfeitos e a suspeita sempre cai nas costas da vizinha antipática e sem coração. Até poderia haver a hipótese de acusarem a vizinha do outro lado, mas esta conserva não só um canil como também um "gatil" ( posso chamar assim uma concentração considerável de gatos em um único espaço?). Ou seja, a vizinha do outro muro seria incapaz de fazer mal algum a qualquer bichinho, que dirá a um cachorro! Me danei! Melhor continuar apenas com os planos de vingança na cabeça. O sorriso que aparece em minha face se dilui quase que instantaneamente quando caio na real, mas vale os segundo de prazer.


Sentir saudade é um sentimento tão bonito! E quem disse que animal não tem sentimentos? Tem sim, e muitos! Choram a valer. São muito sentimentais. E no caso da "vizinhança cachorral", até demais. A dona da casa quando viaja passa semanas fora, por vezes até meses. E aí quem paga o pato é a vizinha de corredor da casa, ou seja, eu. Já rezei, já implorei, já gritei e até mesmo tentei dialogar com os caninos quando passam pelo momento "deprê" do dia. Não adianta. Todas as tentativas são frustadas. Eles continuam chorando, gemendo, uivando, ou sei lá mais o que posso nomear aquele som torturante. Cachorro sentimental é bonitinho só na hora que lambe o dono e fica feliz quando o vê chegar. Mas cachorro chorão é uma péssima compania, ou melhor, uma péssima vizinhança.


Fica meu apelo àquelas pessoas que viajam, deixam seu cachorro para trás e ainda nem se incomodam com o fato de eles encomodarem outras pessoas. Não sou uma sem coração, ou inimiga dos cães, longe de mim! São bons companheiros e confesso que muitas vezes já pensei em cuidar de um filhotinho. Mas é que é tão difícil aturar suas manhas, choros, grunhidos e latidos que o pensamento logo se esvai. Melhor aprender a ter mais paciência, assim quem sabe, poderei aturar os cachorros vizinhos, um dia, aturar, feliz, o meu!